quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Soneto desafinado.

Espectador.
Olhar tudo em volta. O Teatro repleto de pessoas que vem à apresentação e perceber suas expectativas diferentes. Na Era da Irreverência, irreverente é procurar um concerto. A Gala da aparência de luzes colocadas de forma harmônica com as linhas suntuosas do Teatro caem por chão quando olhares de insignificância são disparados no ar...

O jovem que veio acompanhar o pai-empresário-bem-suscedido, só pensa em sair para encontrar seus respectivos. Mas no fundo, quando a orquestra traz seu íntimo à mente, percebe que queria de fato, encontrar seu pai.
Aos falsos interessados, o interesse é nítido. Aquele galanteador, com ar superior, trouxe sua acompanhante para mostrá-la à sinfonia, e não apresentar a sinfonia à ela. Seus olhos nas pernas sobrepostas da dama, adornada por um vestido escolhido com importância, tinha relevância fútil.

Risos de indignação, cínicos, saltaram de minha boca, e foram logo reprimidos, por mim mesmo. E ao lembrar de um sorriso simples, me concentrei em consertar minha ida ao concerto. E então, quando o piano relevou um terceiro ato, me perdi novamente...

Os bodas-de-ouro, vieram reviver à graça de seus tempos. E tem os olhos vidrados, brilhantes e gratos pela fidelidade, pelo amor. E as cordas do violino, aquele que bom som sai por sua idade, transmitem a virilidade de suas personalidades.
O distrinchar de uma noite bem preparada, revelava um bom marido, que, à gosto de sua mulher, se encontrava perplexo com a beleza da paz de espírito de sua amada ao se encontrar em bons sons. Com olhos no contra-baixo, ele começara a aprender naquele momento a gostar do que ela gostava. Por amor, não por admiração. E sem querer, se apaixonava mais.

Suspirando e olhando se as mangas do meu black-tie ainda estavam corretamente colocadas, me percebi como mero espectador. O sentimento de iniciativa para se viver uma boa história se perdia em admirar as outras histórias. Ou pelo menos imaginá-las. Sozinho, sentado na vigésima segunda cadeira, da terceira fila, não buscava o prestígio do camarote. Apenas não buscava nada, apenas sentir-me melhor. Seja nos concertos, nos erros ou nos acertos, de uma vida que pára para que o piano possa retomar triunfante seu solo e juntos, agraciarmos a beleza de uma troca de olhar, finalizando a noite...

... à pé, por uma rua a meia-luz!

4 comentários:

Fernanda disse...

Tinha um tempinho que não lia seus textos. Mas continuam, como antes, lidos!! =D Beijo ;*

Máriam disse...

Maravilhooossoo, sensível... surpreendente como vc, sometimes!
O que te inspirou tanto assim??!!!
Amo vc pra sempre...

Andrea Dias disse...

É incrível como mesmo após tanto tempo, mesmo não convivendo tanto com você mais, ainda levo você no meu coração. A vida leva as pessoas à caminhos diferentes, mas o coração ainda carrega as lembranças dos caminhos que já percorreu.

Antes eu lia seus textos e conseguia enxergá-los além das palavras escritas, conseguia traduzir seus sentimentos....hoje não consigo mais... mas ainda me encanto com tão belas palavras e com a sensibilidade que faz de você essa pessoa tão especial.

Amo você, sempre.

Renan Hannouche disse...

"E ao lembrar de um sorriso simples, me concentrei em consertar minha ida ao concerto."
Eu vejo nas tuas obras um jogo de palavras incrível, adoro isso!

Será que um concerto não tem o intuito de consertar as pessoas, ou ao menos fazê-las encontrar a beleza que existe no nosso íntimo... "Mas no fundo, quando a orquestra traz seu íntimo à mente, percebe que queria de fato, encontrar seu pai."

"de uma vida que pára para que o piano possa retomar triunfante seu solo e juntos "
Já pensou no ponto de vista do maestro? Ele que rege o toque da música que muda nossa vida, tanto acelera nossos corações quanto nos acalma imensamente!