terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Direção defensiva.

À bordo de um carro, eu, minhas lágrimas e o seu cheiro. Que as vezes vem acompanhado de algo parecido com um holograma, onde você aparece do meu lado. A agonia se faz mediante a falta de uma expressão definitiva. Seu rosto aparece chorando, ou sorrindo, ou pensando, ou sentindo. Mas nunca me dão a certeza do que se passa. Do que se passou.

A história que acabou de se passar parece um filme. Uma despedida de um casal prometido para o futuro. Uma despedida figurativamente errada. Veja só, meu Amor, estou em posição de te levar para onde você quiser. Tenho a direção em minhas mãos e nosso destino nas suas. Talvez o caminho seja muito difícil, como já é. São outros tentado "bater" em nós. E até que meu carro anda bem amassado. Mas ele não parou. Você só pediu para descer rápido para pegar a certeza que esqueceu em casa. E nunca mais voltou.

Lágrimas.

Eu resolvi continuar. Mas decidi continuar porque insisto em crer que se não está mais aonde eu a deixei, é porque estará mais adiante. Pode ser que a sua certeza tenha ficado escondida. Ou a esconderam de você! Minha esperança é que ainda esteja procurando. E é por isso que continuo. Mesmo chorando! Mesmo sentindo a sua falta! Mesmo com tentativas de me fazerem parar. Mesmo com a hipótese de estar errado.

Não tenho medo. De fato, meu carro, ou meu coração, está machucado e cansado. A vantagem de ter um carro amassado é que ele começa a ficar imperceptível e desprezado. A minha dificuldade é em controlar o desprezo. Espero que os outros me esqueçam. Nos esqueçam. Assim o trânsito fica mais tranquilo e eu posso te achar mais fácil. Te ajudar ficará mais fácil. E nosso caminho surgirá aonde ele sempre esteve: em tudo. Lógico como o vento em movimento.

Há um outro problema que não quis confessar. O de dirigir embriagado. A direção defensiva é meu modo e meu caminho de te acompanhar. Posso cometer erratas, já que ando bebâdo de amor, como um bom sertanejo. Mas saberei que sempre terei um motivo pra continuar. Saberei que no fim de tudo, há um além eterno. Há um sentimento que pontecializa minhas forças. Há uma música tocando na rádio que diz:

"Hoje acordei sem lembrar
Se vivi ou se sonhei
Você aqui nesse lugar
Que eu ainda não deixei"

E se for um sonho, se tudo tiver sido um sonho, não me acorde. Ainda não desisti do meu caminho. Apenas,

volte.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Encaixe.

Seus retratos já estão na caixa. O coração perfumado. A carta. A estrela. E um pouco da minha luz. O fato é que agora, sou um observador do nada. Contudo quando digo nada, é por querer tudo. É dizer que não existe nada que não me chame a atenção. Com vontade de viver tudo, sem exclusões. E tudo inclui sentimentos tão desordenados, pensamentos tão paradoxais, e rumos tão misteriosos. É enxergar beleza em uma idosa desconhecida que dança dentro do carro no sinaleiro, é ver que os conhecidos próximos podem ser mais próximos se quiser, é olhar pra uma rua vazia e saber que mesmo sem nada nem ninguém, daria uma linda cena de filme.

Tentei me colocar dentro da caixa antes. Viver com coisas que não me abraçariam, que não me dariam um beijo doce, que não brincariam comigo. Apenas com as minhas memórias. Queria ter algo por perto, um conforto meio ilusório, meio concreto. Quando dei por mim, havia me embebedado com o perfume, ofuscado pelo reflexo do seu sorriso nas fotos e deitado no coração. Achei que estava em posição de ficar ali a espera de que alguém abrisse a tampa. Não tinha consciência de meus próprios desejos, não existia um mínimo de racionalidade, como se melancolia fosse um estilo novo de vida. Somente depois que percebi que o ar começava a acabar dentro da caixa, fui tentar abrir a tampa. E como era pesada. E como era agoniante querer forças pra sair dali. Mas sai.

Agora que a caixa está guardada, que larguei um pouco de mim lá dentro, tenho forças pra lidar com o tudo. Ou pelo menos, faço um tudo para ter. Vozes me falam, me fazem relembrar. Me fazem querer pensar. Mas elas não vem de dentro de mim, o que me faz largarem no mesmo lugar onde apareceram: de fora!

Entendo que tenho uma chance só. Que há uma só saída. Porém sou um criativo. E coragem é para aqueles que não tem o dom da criatividade. Eu invento inúmeras outras saídas antes de recorrer a coragem. Uso de intelecto, de embriaguez, de alegria, de rotina e de tantas outras armas que ainda me restam. Só que a munição é uma só: é o desejo de querer usá-las. E isso, em mim, é volúvel.

Existem ainda, as filosofias subjetivas. Umas que nascem do furor de uma alma jovem, de alguém que quer se expressar sem a necessidade de ser entendido. As que tem, por consequências atitudes que nem mesmo a própria alma entendem. Como por exemplo a caixa estar guardada, como se esperasse algo, e não jogada fora, como a vontade quando bate a agonia.