quinta-feira, 27 de maio de 2010

Sobre ser solidão.

Por favor, imagine um piano sendo tocado ao fundo. Por mãos de quem já viveu o suficiente para saber que cada nota, é um esforço!

Há tempos me pergunto sobre os pontos negativos de viver só. E não os acho. Há sempre quem queira dizer que "não se pode viver sozinho", mas esta frase não contém a sutileza como deve ser passada. Porque quem convive, não vive sutilmente. E nem apenas vive.

Meus infernos lógicos e minha linha de raciocínio, se é que ela existe, já são o suficiente para querer mais alguns pontos de vista. Tudo o que penso ou questiono são baseados nos outros, de fato. Mas não são baseados naqueles que estão próximos. O pipoqueiro do bloco da faculdade me fez pensar muito mais sobre o que é viver do que meu professor de sociologia. E eu nunca comprei uma pipoca durante os quatro anos de convivência.

As vezes o fato de me sustentar observando os sentimentos expressos de desconhecidos me elucida. Já penso que não preciso de fato de alguém ao meu lado. E nunca deixo de pensar quão superficial é amar.

Hoje de manhã me apaixonei pelo interesse de certas pessoas no meu bom-dia. Aquele que parecia só sair após às dez da manhã, hoje saiu às sete. De tarde apaixonei por uma senhora de idade que olhava uma vitrine de roupas joviais e abriu um sorriso como se soubesse da história por trás do vestido. Ou apenas pela memória.
E quando digo me apaixonar, é no sentido literal da palavra. De fazer o dia ficar melhor. De soltar um sorriso atoa. E de ficar com uma imagem na cabeça.
E impressionantemente, eu nem os conhecia.

A maioria dos maiores pensadores da história não tiveram companheiros. E aquilo que a outros olhos parece rude, para mim parece filme: esqueçam-me, para que possa conhecê-los. Para que eu possa usufruir da espontaneidade, do "ninguém te observar", da intimidade explícita. A sutileza dos gestos estão fora do foco de atenção. E por esta razão são sutís.

Não sei se poderei viver sozinho, como quero. Positivando o que se negativa em termos de prisão social. Quero apenas que eu possa olhar, apaixonar-me, e sair despercebido.

Só não deixarei de comprar mais pipoca.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Trinta e sete segundos.

Eu estava nervoso por te ter pela primeira vez em meu quarto. Mas nem o nervosismo conseguiu tomar conta de mim.

Como se fosse algo que acontecesse todos os dias, você estava deitada com a barriga no chão, pernas que pareciam brincar com o ar, um livro na frente, e fones de ouvido, provavelmente tocando um pop-rock nacional barato.
Já eu, que mal te reconhecia como um amor há semanas atrás, estava sentado no computador, procurando algo pra fazermos da nossa noite.
E de repente percebi que nem abrira a página de pesquisa!

De repente, me peguei atento aos teus olhos fixos que se perdiam ao ouvir a música, mas tinham rumo de linhas certas.
De repente, quis ouvir o que você escutava, só pra poder fazer parte do seu momento.
Queria que de repente, você olhasse para mim... Não, não! Ai eu teria que inventar qualquer desculpa para me tirar de uma situação desconfortável. Melhor continuar assim!
Parece que algo em você, força o espaço a diminuir.
Sutilmente, você soltou um sorriso. De canto de boa. Não sei se pelo livro ou pela música, ou... você sabe que eu estou te olhando?!
E mesmo assim, não dou conta de parar de te olhar.
Eu que nem sabia como dizer a você o que se passava de verdade. Era apenas um brincalhão, meio inocente no meio da multidão. Enquanto todos esperavam que alguma coisa além das palavras de agrado social saissem da minha boca, eu só esperava que você não saisse de perto.
E cá estou bem perto! Você levantou os olhos meio surpresa, e eu estava deitado, com um coração batendo contra o chão, à um palmo do seu rosto...

"Que foi?!", sorrindo como se tudo estivesse no seu controle.

E eu, totalmente desarmado: "Você!"

Isso tudo, em trinta e sete segundos. E de repente, quero uma vida ao teu lado! Ou só um sorriso causado por mim!