segunda-feira, 23 de julho de 2012

23.

Era uma vez um país muito distante. Onde não havia governo. Ou melhor, onde não havia governabilidade. Bem que tentaram colocar alguma anomalia política para tentar afagar os ânimos dos rebeldes presos nos corações.

Era uma vez, dois. Dois porque isso já basta para ter-se a necessidade de um governo. E basta ter dois mais um para não se ter.

Este um: paixão.

Dos que lá viviam, todos tinham. Era um reino muito bonito, com castelos construidos de hamburgueres e batatas fritas. No jardim, passava um rio de Nutella e várias flores. Todos os cômodos do castelo eram auto-suficiente para os dois: televisão e colchão. A simplicidade e a cumplicidade gerava felicidade. Até relembravam um pouco de fadas e fantasias. Era quase um império. Só que com dois imperadores.

Como todo império, e já dizia Duroselle, um dia ele cai. A diferença aqui é que existiam teorias para que isto acontecesse. No nosso caso não né?

Eu nunca quis ditar caligrafias e normativas para o amor. Mas o que me parece é que se não a seguissemos, não conseguiriamos viver lá. E foi só por seguir o amor ao pé da letra é que consegui! Vi estrelas que pareciam sorrisos e sorrisos que falavam da infância. Carinhos que saiam tortos, mas com mais sinceridade do que palavras de um Frei que não gostávamos.

Cada vez que colocavamos o nosso amor acima de tudo e de todos, pareciamos transportados para o castelo de hamburgueres. E esquecemos que nem toda viagem termina sem um vidro quebrado.

Sei pontuar os momentos terríveis que passei. Mas graças a cartilha, não sei contar quantos bons eu senti. Ou ainda sinto.

Sair de lá e ter que relatar ao mundo a queda de nosso império não é fácil. Me sinto como Mussolini, Cesar e os grandes que juravam ter em suas mãos todo o poder do mundo e simplismente tiveram que confrontar a realidade. É de enlouquecer.

"Eu gosto de olhos que sorriem, de gestos que se desculpam, de toques que sabem conversar e de silêncios que se declaram" Machado de Assis.

Era uma vez um Império. De dois. Que devotos de Deus, não conseguiram decifrar Seus planos. Mas agradecem a Ele por terem vividos em um país distante e só deles. E de mais ninguém!




 

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Traindo com Vida.

Nada do que eu já disse, foi tão abstrato quanto o que sinto por você. Ou melhor, o que você me faz sentir.

Insiste em me rodear. Já utilizou de amigos, conhecidos, entes bem próximos e até da minha imaginação. Dentro dela, inclusive, me seduz mostrando que meu cansaço logo acaba se estou em seus braços. Como se o cansaço de uma vida, repousasse de forma confortável próximo a ti.

Usa dos meus pontos fracos pra me conquistar. E como isso é vulgar. E como isso é tentador. De fato já pude experimentar várias alegrias, mas seu mistério me envolve como nenhuma mulher. Ao menos sei que te amar, não consigo.

Hoje, sei que estás bem próxima. Na estrada posso te ver várias e várias vezes passando por mim. Em caminhões, carros e curvas.

Posso dizer hoje que já tivemos encontros e desencontros. Em nenhuma delas jurei fidelidade! Não firmei compromisso e muito menos fiz questão de te ver. Aliás, as pessoas mais próximas a mim, não gostam da ideia de que eu fique com você.

Mas te confesso, Morte, estou te traindo. Hoje, viver, por muito mais difícil que seja, ainda vale a pena!

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

A proposta feliz.

De todas as propostas que me fizeram na vida, sempre tive duas escolhas: aceitá-las ou não. Mesmo aquelas com chantagens subliminares ou as espontâneas, todas estas chegaram à mim e sempre tive uma resposta verbal, simples e concreta. Mas não à essas da Vida.

Existem milhares de linhas de pensamento sobre como viver, o que querer da vida, os momentos, as fases, tudo! Dos budístas, sem-religiões, filosofia da balada, do aproveitar a juventude, do querer casar, do pensar no presente... e sempre se enxergar pensando no futuro. Em comum à todos eles estão os principais questionamento geralmente são: felicidade, dinheiro, companheiro, família e, caso se acredite, Deus. Considerando este último como possibilidade e variedade acima da média, deixo de lado nas próximas linhas.

O dinheiro, o companheiro e a família, são totalmente relacionados a outras pessoas. Ou melhor, dependem de outras pessoas! Por esta, as conquistas são perceptíveis e o relacionamento com as tais, vez ou outra, envolvem propostas. Da sua proposta de casamento à de emprego, a insegurança do "não aceitar" é a mesma. Isto porque constituir família depende de uma única proposta, mas que é construída por um bom tempo. Estes questionamentos feitos por outras pessoas, ou que nós mesmos fazemos e aguardamos a aceitação ou a negação, refletem a interdependência pessoal em que nos encontramos.

A única coisa que não depende dos outros, é a que nunca me apareceu com uma proposta: a felicidade! Nenhuma voz sobrenatural me apresentou uma escolha da qual a felicidade fosse o lucro. Ninguém me mandou um contrato para estudar as cláusulas e aceitar por querer ser feliz (e eu ficaria curioso em pensar no remetente). Nada!
Quando se trata de felicidade não se encontra em aceitar um emprego, em ganhar dinheiro, em achar a pessoa que te completa, em olhar o bom desevolvimento da sua família. Não se encontra, pelas suas escolhas. E sim, o que você faz delas. Acho que inclusive algum destes filósofos de rodoviária já deve ter dito isso.

Pelo meu coração, diria que quanto menos pessoas você colocar entre o seu caminho e a felicidade, mais facilmente você chegaria a ela. Mas aí, eu estaria me esquecendo que já estou à linhas de distância quando me referi a Deus. Independente do seu, no seu nascimento, você veio ao mundo sozinho. Mas Ele colocou milhões de pessoas em volta. E isso, não é acaso! Acaso, é conseguir felicidade na maioria do seu tempo!

domingo, 2 de janeiro de 2011

O ego fúnebre.

Ao dizer que gosto da solidão e a prefiro em circustâncias, não meça minha palavras, é puro sentir. Algumas das mentes brilhantes deste mundo discorreram sobre os benefícios da solidão. E eu até os enxergo claramente. Mas minha mente vai além.

Ao falar que não me importo muito com complicações cotidianas e de cunho social, sou até bem sincero e falo com propriedade. E acho que isso vem da minha simpatia pela solidão. Mas, o meu egoísmo aparece mesmo quando penso sobre morrer.

Queria morrer antes dos meus pais. E isso talvez mostre já de maneira bruta o que é o meu egoísmo. A dor de perder alguém que se ama, foge das explicações até de filósofos. Raciocinar a respeito é praticamente impossível.

Queria morrer antes dos meus amigos. Aos poetas que dizem que a amizade tem valor maior do que os amores de uma vida, viveram muito bem todos os seus dias. Não consigo imaginar minhas lembranças sem três ou quatro rostos presentes.

Mas entenda, não é 'querer morrer'! É que, diferentemente da maioria, a mim pouco me importa em morrer hoje, amanhã ou depois. Sobre 'morrer jovem e não viver a vida', só o fato de ter boas lembranças na cabeça, e muito ter aprendido com os mais velhos que me cercam, já me fazem bastante satisfeito do período mundano. Afinal, tem tanta coisa que se passou, que dou graças à Deus de de fato terem passado.

Então, se eu morrer amanhã, não foi por querer! Mas tenham certeza de que não os amei menos por ter ido.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Fazer acreditar.

Já fazia algum tempo que eu não a via. De fato, por conversas ou notícias, sabia de como ela se sentia. De como vivia seu relacionamento. Ela só me mandou um recado, e disse que queria me encontrar. E eu, pensando em todas as consequências, quis!

Sentados no mesmo lugar onde antes eu apenas imaginava, hoje, dizia:
- O que está acontecendo?!
- Eu não sei! Achei que tinha o caminho certo nas minhas mãos e ele simplismente foi sumindo!
- E você já procurou algum outro?!
- Não! (Choro)
- Então é porque você ainda está perdida.

Dei alguns minutos até ela engolir a vergonha. Eu já sabia que era necessário, por isso permaneci quieto. Olhando-a de rabo de olho, já que sabia sobre seu incômodo quando sob meu olhar, percebi que a conhecia melhor que antes, mesmo sem uma convivência continua. Olhando ainda para o chão, até como se fizesse a analogia concreta entre caminho e a grama debaixo de nós, ela continuou:
- Eu não sei mais o que fazer!
- Me dê três motivos plausíveis pra acabar com tudo agora!
- Não me venha com sua lógica novamente!
- Não é lógica, é conhecimento sobre si mesmo. Coisa que acho que você não tem!

Levantei-me e sabendo que a ausência naquela hora seria melhor do que qualquer palavra, segui por algumas quadras. Com o coração na mão, ouvia o suspiro de um choro. Um choro que desejava que rolasse pelo meu peito, amparado pelo meu ombro.

Dois dias depois, ela aparece na porta do meu quarto. Com cara de quem acaba de descobrir uma safadeza feita.
- Porque você é a única pessoa que sabe como falar comigo?!
- E o que é saber falar com você?!
Olhou para a minha mão, estendida com a intenção de que ela entrasse, ela balançou a cabeça. Por um instante achei que o sinal negativo era para a entrada no quarto, mas ela delicadamente colocou sua mão sob a minha e eu entendi.
- Você me fez acreditar em mim. Só que eu fiquei brava por ter que te ouvir para passar a enxergar as coisas!
Soltei um sorriso discreto. Ela insistiu:
- Como?!
- Porque eu acredito em você aonde é necessário para ser feliz.
Inclinando-se para trás, acho que com intuito de me distrair, deu um tom de desconfiança e disse:
- Agora você é livro de auto-ajuda?!
A trouxe para mais perto, tirando-a das suas defesas e... dei-lhe um beijo.
Olhando eu seus olhos respondi:
- Sou quem acredita que pode te fazer feliz!

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Soneto desafinado.

Espectador.
Olhar tudo em volta. O Teatro repleto de pessoas que vem à apresentação e perceber suas expectativas diferentes. Na Era da Irreverência, irreverente é procurar um concerto. A Gala da aparência de luzes colocadas de forma harmônica com as linhas suntuosas do Teatro caem por chão quando olhares de insignificância são disparados no ar...

O jovem que veio acompanhar o pai-empresário-bem-suscedido, só pensa em sair para encontrar seus respectivos. Mas no fundo, quando a orquestra traz seu íntimo à mente, percebe que queria de fato, encontrar seu pai.
Aos falsos interessados, o interesse é nítido. Aquele galanteador, com ar superior, trouxe sua acompanhante para mostrá-la à sinfonia, e não apresentar a sinfonia à ela. Seus olhos nas pernas sobrepostas da dama, adornada por um vestido escolhido com importância, tinha relevância fútil.

Risos de indignação, cínicos, saltaram de minha boca, e foram logo reprimidos, por mim mesmo. E ao lembrar de um sorriso simples, me concentrei em consertar minha ida ao concerto. E então, quando o piano relevou um terceiro ato, me perdi novamente...

Os bodas-de-ouro, vieram reviver à graça de seus tempos. E tem os olhos vidrados, brilhantes e gratos pela fidelidade, pelo amor. E as cordas do violino, aquele que bom som sai por sua idade, transmitem a virilidade de suas personalidades.
O distrinchar de uma noite bem preparada, revelava um bom marido, que, à gosto de sua mulher, se encontrava perplexo com a beleza da paz de espírito de sua amada ao se encontrar em bons sons. Com olhos no contra-baixo, ele começara a aprender naquele momento a gostar do que ela gostava. Por amor, não por admiração. E sem querer, se apaixonava mais.

Suspirando e olhando se as mangas do meu black-tie ainda estavam corretamente colocadas, me percebi como mero espectador. O sentimento de iniciativa para se viver uma boa história se perdia em admirar as outras histórias. Ou pelo menos imaginá-las. Sozinho, sentado na vigésima segunda cadeira, da terceira fila, não buscava o prestígio do camarote. Apenas não buscava nada, apenas sentir-me melhor. Seja nos concertos, nos erros ou nos acertos, de uma vida que pára para que o piano possa retomar triunfante seu solo e juntos, agraciarmos a beleza de uma troca de olhar, finalizando a noite...

... à pé, por uma rua a meia-luz!

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Métodos anti-modernismo.

Raras as chances que tive de me enxergar enquanto vivia neste vício de rotina. Mas quando pude olhar mais para mim, sempre percebia você ao fundo.

Antes você era apenas um nome a mais. Antes de cruzarmos nossos caminhos. A partir de então, o desconhecido se transformou em sede de convivência. E a cada madrugada, a cada besteira, era como se você me cutucasse falando: "Sei que tem algo quieto em você, mas é isso o que eu quero!"

É um sentimento contido por se assemelhar demais à um pecado, apesar da vergonha só aparecer em nossos rostos. Mas nada que mude como lidamos um com o outro. Eu não tento te esconder, apenas não sei como te apresentar. E assim, sorrio! Sorrir por ter esquecido como é chorar. A saudade se transforma em fogo do corpo, em vontade de ter suas costas repousadas em meu peito, ou em poder olhar nos teus olhos e passar a mensagem que necessito de algo além do brilho.

Não sei se gosto de você pela confusão que causa em mim quando nos falamos. Mas creio que não. Acho que o desânimo apenas ocorre quando desligamos, vamos dormir, e já no quente de nossas cobertas, descobrimos que a distância faz frio. De resto, tenho o suficiente para virar uma noite querendo ser mais sábio para achar uma solução mais rápida.

Vivemos então, buscando soluções e respostas. Se este é o mundo sem fronteiras, da proximidade, porque prefiro acabar com o moderno e ter a vontade de ir tomar um sorvete na praça com você?!