quarta-feira, 28 de abril de 2010

Sem foco.

Deixando as palavras correrem...


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Acordem, eu não sou mais o mesmo. Descobri a beleza do silêncio, retratada anteriormente como dor para mim. Às detentoras do meu sorriso e dos meus suspiros, digo que vivo muito bem sem. Aos que me fazem sorrir intencionalmente, por favor, fiquem. E obrigado.
Agora eu sei que seu olhar é dantesco. Ou paradoxal, no mínimo. Eu tenho medo de te encontrar, e faço tudo para tal. Eu, que brinco com as palavras, mal sei manusear seu sorriso. Porque eu bem que podia tirar proveito disso.
Não, não estou falando de uma ou outra. Falo de amores. Daquilo que deve ser elevado, colocando-o em nível de mistério.
Ao contrário do que se pensa, não fui feito para os outros. Apenas acredito no bem. Mas me sinto muito melhor escondendo as coisas. Enfiando-as num lugar onde o esperto sou eu, emburrecendo-me.
Há tanto a se dizer, e nenhuma força pra falar. Todas as músicas são trilhas para mim. Mas quem disse que trilhas demais dão o caminho certo a alguém?!
O melhor beijo encontrou um outro rapaz, a léguas daqui, e eu não tenho a oportunidade nem de lutar por.
O melhor sorriso se escondeu dentro de si, e eu não posso dizer nada para exibí-lo para o mundo.
O melhor olhar está perdendo o brilho, e a culpa pode ser minha.
A melhor saudade, é só choro e saudade.
E o melhor amor, se transformou. Não está mais nas minhas mãos.
Eu que ando sonhando para não precisar dormir.
Eu que sou silenciado por brilho de olhar.
Ridículo. Mas ainda bem que fica tudo em mim.
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Agora fujam palavras. Quero que saiam correndo. Só pra eu esquecer. Eu que vivo lembrando que esqueci.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Pluto.

E se eu pudesse ter escolhido os detalhes desta história, ela seria a noite de ontem.

Chuva, pois não há nada mais melancólico. Noite, figurando o escuro lírico da falta de direção. Eu, com um sobretudo preto, daqueles que ao sentirem a gota da chuva, parecem querer jogá-las de volta pra cima. Por baixo, um terno que me serviu para posar bem em uma ocasião rotineira. E por baixo, o cansaço do dia, que se refugia na solidão escondida.

Parado a sua porta, começo a voar nos meus pensamentos. Tendo sempre como escala a dúvida do que eu fazia ali. Deixei o seco do meu carro, para poder sair a chuva. Com a esperança talvez de que assim, você pudesse sentir a minha presença e sair à porta. Mas quanta bobagem!

'Bobagem menos aquelas que eu adorava fazer só pra ver seu sorriso lerdo, largo! Largaria as minhas forças ao chão, caso você necessitasse aprender a colher. Só para não te ver cansar. Das tantas vezes que te coloquei sobre meu peito, nenhuma me passou sem querer te colocar sobre minha alegria. Me encontrava devoto. Como se você fosse capaz de emanar luz, porque era disso que eu precisava.'

'O que estou fazendo aqui?'

Nada de ouvir seus passos e a porta destrancando. Por um otimismo relapso, acho que é culpa da tormenta que cai e me ensurdece. Querer chamar a atenção pode ser demais. Provavelmente você deve estar dormindo, ou fazendo algum trabalho. E eu, chegando do meu, procuro uma razão com a qual dormir.

'Seus olhos sempre brilharam mais depois de um cochilo repentino.'

E um suspiro almejando ser sorriso me retoma a realidade. Já se foi. Não há mais. Minha consciência de romancista com ares de realismo aplicado ao sentimento, cairiam abaixo caso você viesse me dar um abraço. Não precisava nem falar, nem acariciar. Só um abraço.

Por sorte, e obra divina, as minhas lágrimas se confundem com as gotas de chuva. E o meu sobretudo as recebe como medalhas. Batendo no peito como se algo de extremo esforço estivesse sendo recompensado. E acredite, essas eu não quero jogá-las para o alto.

Te perder, terminar, ou ter morrido, são verbos sem tempo semelhante, mas encaixam perfeitamente. E como se eu ignorasse tudo, ou sendo bem sincero, querendo também te deixar de lado, abro meu guarda-chuva, depois de ensopado e volto para o carro.

Ao pegar no volante, vendo meu banco de couro claro, suportando um guarda-chuva negro molhado, percebo que assim como não me desfiz da chuva apenas com aquela proteção, não me desfiz de você com aquela declaração. Calada, sem vontade de falar. Talvez só aparecer.

A relutância em querer sair da sua porta, só é abafada por aquela rosa branca, que eu deixei em frente. Eu só espero que os deuses não a carreguem como oferenda. Apesar de achar que caso isso aconteça, eles vão encontrar um bom exemplar do que amar calado é.

Minha sorte é que sempre que dobro a esquina, eu me dobro. Como se escondesse algo, de mim mesmo!

Me entende?!