segunda-feira, 5 de abril de 2010

Pluto.

E se eu pudesse ter escolhido os detalhes desta história, ela seria a noite de ontem.

Chuva, pois não há nada mais melancólico. Noite, figurando o escuro lírico da falta de direção. Eu, com um sobretudo preto, daqueles que ao sentirem a gota da chuva, parecem querer jogá-las de volta pra cima. Por baixo, um terno que me serviu para posar bem em uma ocasião rotineira. E por baixo, o cansaço do dia, que se refugia na solidão escondida.

Parado a sua porta, começo a voar nos meus pensamentos. Tendo sempre como escala a dúvida do que eu fazia ali. Deixei o seco do meu carro, para poder sair a chuva. Com a esperança talvez de que assim, você pudesse sentir a minha presença e sair à porta. Mas quanta bobagem!

'Bobagem menos aquelas que eu adorava fazer só pra ver seu sorriso lerdo, largo! Largaria as minhas forças ao chão, caso você necessitasse aprender a colher. Só para não te ver cansar. Das tantas vezes que te coloquei sobre meu peito, nenhuma me passou sem querer te colocar sobre minha alegria. Me encontrava devoto. Como se você fosse capaz de emanar luz, porque era disso que eu precisava.'

'O que estou fazendo aqui?'

Nada de ouvir seus passos e a porta destrancando. Por um otimismo relapso, acho que é culpa da tormenta que cai e me ensurdece. Querer chamar a atenção pode ser demais. Provavelmente você deve estar dormindo, ou fazendo algum trabalho. E eu, chegando do meu, procuro uma razão com a qual dormir.

'Seus olhos sempre brilharam mais depois de um cochilo repentino.'

E um suspiro almejando ser sorriso me retoma a realidade. Já se foi. Não há mais. Minha consciência de romancista com ares de realismo aplicado ao sentimento, cairiam abaixo caso você viesse me dar um abraço. Não precisava nem falar, nem acariciar. Só um abraço.

Por sorte, e obra divina, as minhas lágrimas se confundem com as gotas de chuva. E o meu sobretudo as recebe como medalhas. Batendo no peito como se algo de extremo esforço estivesse sendo recompensado. E acredite, essas eu não quero jogá-las para o alto.

Te perder, terminar, ou ter morrido, são verbos sem tempo semelhante, mas encaixam perfeitamente. E como se eu ignorasse tudo, ou sendo bem sincero, querendo também te deixar de lado, abro meu guarda-chuva, depois de ensopado e volto para o carro.

Ao pegar no volante, vendo meu banco de couro claro, suportando um guarda-chuva negro molhado, percebo que assim como não me desfiz da chuva apenas com aquela proteção, não me desfiz de você com aquela declaração. Calada, sem vontade de falar. Talvez só aparecer.

A relutância em querer sair da sua porta, só é abafada por aquela rosa branca, que eu deixei em frente. Eu só espero que os deuses não a carreguem como oferenda. Apesar de achar que caso isso aconteça, eles vão encontrar um bom exemplar do que amar calado é.

Minha sorte é que sempre que dobro a esquina, eu me dobro. Como se escondesse algo, de mim mesmo!

Me entende?!

4 comentários:

Unknown disse...

Primeira!! =D Quanta perfeição em cada palavra... Fico maravilhada. =) Beijo ;*

Renan Hannouche disse...

"E por baixo, o cansaço do dia, que se refugia na solidão escondida." Muito interessante essa parte!

"Com a esperança talvez de que assim, você pudesse sentir a minha presença e sair à porta. Mas quanta bobagem!" Bobagem mesmo né primão? É impressionante como esperar é proporcional à se decepcionar!

"Por sorte, e obra divina, as minhas lágrimas se confundem com as gotas de chuva. E o meu sobretudo as recebe como medalhas. Batendo no peito como se algo de extremo esforço estivesse sendo recompensado. E acredite, essas eu não quero jogá-las para o alto." Po, aqui eu só bato palmas véi, esse lance das medalhas, do esforço, eu concordo plenamente e me identifico muito! Como tem valor certas lágrimas hein?

"percebo que assim como não me desfiz da chuva apenas com aquela proteção, não me desfiz de você com aquela declaração."
É sempre assim, a gente pode até nos ludibriar imaginando que a chuva pode levar a dor , mas "o buraco é mais em baixo"

Pra terminar o fim, deixa pra lá, não preciso nem comentar que foi o que eu mais gostei!
Primeira vez que eu venho no teu blog, tenha certeza que a primeira de muitas, parabéns primão!

Anônimo disse...

eu fico sem palavrass, depois das suas palavras. Serio!

:*

R.R. disse...

...busco as vezes nos detalhes encontar e entender você!

;*