sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Gênesis momentânea.

Eis que então, há ócio. Na verdade, tal designação subestimaria e restringiria o que de fato há. Cá a olhar a cortina mais escura da casa, já percebo que não é estilo, é refúgio. Como se a cada raio que entrasse pela janela e não satisfizesse, pudesse ser retido se a cortina estivesse em posição para isso. E nada mais penso. Me acomete uma súbita vontade de nada!

Eis que então, há paz. Contudo paz não é plena. Sem tormento não se tem paz. Não há como encontrá-la. Ah, os tormentos. Perder-se em desejos e fingir-se um astuto estrategista da vida. Pelo menos com palavras. Talvez mais do que necessários, eles sejam uma obra de arte da rotina. Uma música da vulgaridade. E então tem-se a gênese de um ciclo vicioso e viciante. Adorar confusões para viver a odisséia em busca do conforto pleno.

Eis que então, me deito. Mas mais do me deitar, me entrego. Vejo entorno de tudo, um pouco de nada. E a minha vontade surge em imaginar que posso assinar este nada, fazendo ser algo. Quero um pouco mais. Até que acabem todas as lacunas inóspitas, todas as brechas que os outros dizem ter. Sim, os outros. Não mais a moi.

Eis que lá então, estão os outros. E ali! E aqui! Como se não houvesse comparação de vida, e por tal consequência, não se pudesse deduzir o que é vida. Valorizar aquele cara sentado no metrô, que um dia conheci, cuidando de uma criança especial, me fez perceber que o deficiente era eu. Eu, ciente das coisas mundanas, gargalho com peraltisses, enquanto o João, sem entender o que eu falava, ria da minha expressão corporal. Valorizar a vida dos outros talvez seja sublime demais. E talvez não esteja ao meu alcance. Posso cair no pecado de querer outras vidas ao meu lado, só pra saber se a minha é boa.

Feche a cortina. Até meia janela.

Os pensamentos ininterruptos agora, é um olhar para o teto. E se me viro, vejo nada. E se me levanto, vejo nada. E me pergunto se para toda a atitude é necessária uma explicação, já que toda explicação advém de uma atitude. Viver não necessita de explicação, e por si só, já é a mais audaciosa atitude.

Que sejam abertas então as cortinas. Ou se quiser algo mais medieval ou rebelde (escolha seu estilo), as arranque com um movimento apenas e grite pela janela agora vísivel:

- Como um espetáculo que continua, ou um show que obedece um ditado popular, eu não quero parar!

9 comentários:

Anônimo disse...

eu ia falar o q eu achei pelo msn, mas acho q vc caiu neh heheheh
eu gostei
mas depois pelo msn falo com mais detelhes ;D

Anônimo disse...

Lindo...
"Viver não necessita de explicação, e por si só, já é a mais audaciosa atitude". E como é!
Amo vc!
=***

Tatá disse...

Colocar em palavras o que eu senti ao ler seu texto seria restringir demais a dimensão da sensação boa que passou. =* Eu te amo.

Anônimo disse...

''Valorizar aquele cara sentado no metrô, que um dia conheci, cuidando de uma criança especial...'' Lembrei de quando vc me contou isso. =) Liiiindo o texto, de verdade.
Te amo cunhado. =**

Anônimo disse...

Bê, é sempre sem palavras! Ah, se eu tivesse o mínimo da inspiração que você precisa pra fazer seus textos...
=*

Larissa Caixeta disse...

"Perder-se em desejos e fingir-se um astuto estrategista da vida. Pelo menos com palavras. Talvez mais do que necessários, eles sejam uma obra de arte da rotina" estou completamente encantada. Encantada Sr. Daccache. :*

R.R. disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Lupe Leal disse...

é. rasgar o peito sempre dá certo. nada como as mil dobras de um instante.

um abraço.

Anônimo disse...

Preciso confessar que estou maravilhado com tanto.! Sinceridade tamanha, profundidade por poucos alcançada, e uma reflexão sutilmente violenta! hehehehe
É vida que me acomete...

Meus Parabéns!
;D